O seguimento de Jesus Cristo nos
compromete com a defesa da vida. São Francisco intuiu isto e viveu em plena
harmonia com a natureza e louvou o Criador por todas as suas criaturas.
O Papa João
Paulo II declarou São Francisco patrono da ecologia no dia 25 de novembro de
1979. Era uma data próxima à comemoração dos 800 anos do nascimento do Santo de
Assis (1181). O reconhecimento deu-se a partir da consciência de que é
necessário cuidar bem do planeta que está agonizando. A Igreja católica não
quis omitir-se diante do compromisso de defender a vida cuidando do planeta que
nos sustenta. Atualmente o Papa Francisco está preparando uma encíclica cuja
tema é a ecologia.
Da mesma
forma que São Francisco de Assis reconheceu a bondade e a beleza de Deus em
suas criaturas, os franciscanos de hoje assumem o compromisso de lutar pela
vida digna das pessoas, especialmente as mais desprotegidas.
Alguns
sinais que se apresentam hoje são alarmantes. Olhemos para as mudanças
climáticas, a escassez de água doce em grande parte da terra, a extinção de
espécies animais e vegetais, a mobilidade humana criando grandes centros
urbanos. É certo que o ser humano é o principal responsável por estas mudanças
e por aquelas que vêm como consequência destas. Por isso, é tempo de rever as
atitudes, as ações destrutivas e de exploração dos recursos naturais. Sem a
recuperação das nascentes, a água doce será sempre mais escassa. Sem
reflorestamento nativo com corredores ecológicos, as espécies continuarão sendo
extintas. Sem consciência e com aumento da ganância, o desmatamento irracional
continuará e a vida será sempre mais ameaçada pela desertificação, elevação da
temperatura e desequilíbrio dos níveis pluviométricos.
Na era da
tecnologia temos conhecimentos, informações e recursos mais que suficientes
para defender a vida do planeta. O que não podemos é admitir que o egoísmo
continue impedindo as pessoas de amarem as gerações futuras. O ser humano hoje
precisa deixar a inteligência abrasar o coração, pois de nada serve a técnica,
o conhecimento, o enriquecimento e a aquisição de bens se não houver amor e
sentido para esta existência.
Cada
criatura neste mundo tem uma “missão”. Quando extinta, a missão deixa de ser cumprida
e as consequências são visíveis no desequilíbrio da natureza. Os agricultores
sabem, por exemplo, que a extinção das abelhas ocasionará a não polinização de
muitas plantas e a consequente falta de produção. Sabem, mas na agricultura
convencional continuam aplicando inseticidas perigosos.
Hoje não
basta dizer que é preciso conviver com as mudanças climáticas. É preciso uma
vivência ética e responsável capaz de defender a vida. Também não basta pensar
que os outros é que são os responsáveis. É preciso mudança de atitudes pessoais
que interferem no meio ambiente degradando a vida. Se a humanidade imitasse São
Francisco o planeta estaria salvo da degradação...
São
Francisco viveu em harmonia com as criaturas e com o mundo a ponto de ser
conhecido como o “irmão universal”. Sua compreensão da dignidade humana fez
dele um irmão respeitoso e afetuoso, um poeta e cantor dos louvores de Deus.
Por isso, foi atribuída a ele a oração “Senhor, fazei de mim um instrumento de
vossa paz”. O reconhecimento do amor de Deus pela humanidade expresso na
natureza fez São Francisco compor o “cântico das criaturas”:
Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus
são o louvor, a glória, a honra e toda bênção.
Só a ti, Altíssimo, são devidos; e homem algum é digno de te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o senhor Irmão
Sol, que é dia e nos iluminas por ele.
E ele é belo e radiante com grande esplendor; de ti, Altíssimo, carrega a
significação.
Louvado sejas, meu Senhor, pela Irmã Lua e as Estrelas, no céu as formaste
claras e preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor pelo Irmão Vento, pelo ar, ou nublado ou sereno, e
todo o tempo, pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor pela Irmã Água, que é muito útil e humilde e preciosa
e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo Irmão Fogo pelo qual iluminas a noite, e ele é
belo e alegre e vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, por nossa Irmã a mãe Terra, que nos sustenta e
governa, e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam por teu amor, e suportam
enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados os que as suportam em paz, que por ti, Altíssimo, serão
coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, por nossa Irmã a Morte corporal, da qual nenhum
homem vivo pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecados mortais! Felizes os que ela achar conformes à
vossa santíssima vontade, porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças, e servi-o com grande
humildade.